Agora mais equipado de série, Chevrolet enfrenta o contemporâneo Ford.
Digamos que você tem para gastar no seu próximo carro até R$ 45 000. Já passou pelos modelos de entrada que cada montadora oferece (Chevrolet Celta ou Ford Ka, apenas como exemplos) e depois migrou para carros imediatamente acima, como Fiat Palio ou Volkswagen Gol, ambos na casa dos R$ 35 000 em suas versões intermediárias. Seguindo o raciocínio dessa escalada, a sequência lógica seria um automóvel médio, do porte do Volkswagen Golf ou até mesmo do renovado Ford Focus, cuja versão de entrada, a GLX 2.0 a gasolina, parte de R$ 56 400.
Mas é aí que surge o problema. Os cerca de R$ 20 000 que separam um hatch pequeno de um médio podem ser o grande empecilho nessa linha evolutiva. O que fazer? Continuar no mesmo segmento? Antes que a decisão seja tomada, é bom olhar com carinho para dois personagens que figuram há longa data no mercado: o Chevrolet Astra e a primeira geração do Ford Focus, ainda em produção na Argentina e exportada para o Brasil. Se você já cansou do espaço interno acanhado de Gol, Palio, Fiesta e companhia, eles despontam como boas opções para quem busca um veículo maior, mas que caiba no orçamento.
Foco no custo/benefício
Você, leitor, acostumado com as novidades apresentadas aqui no Carro Online, deve estar se perguntando por que decidimos reunir dois modelos lançados há mais de 10 anos. O principal – e mais forte – argumento é o ótimo custo/benefício que tanto o Focus Flex como o Astra 2010 conseguem entregar para o consumidor graças, justamente, ao longo período em que estão em produção. Por isso, é bom ter em mente que os modelos não entregam o que há de mais moderno em termos de design e soluções de aproveitamento de espaço interno, mas são a ponte para quem busca um veículo mais confortável do que os carros de entrada.
Nos seis primeiros meses de 2009, o Astra registrou 13 349 unidades vendidas, número que o coloca com folga na liderança do segmento. Apenas como comparação, o Volkswagen Golf ficou em segundo lugar no período em questão, com 9 573 unidades. A grande sacada da Chevrolet para a linha 2010 do Astra foi acrescentar equipamentos na versão de entrada e congelar seu preço. Sendo assim, o Astra 2010 passa a ser vendido em configuração única por R$ 44 389 e traz de série ar-condicionado digital, bancos com revestimento de veludo, direção hidráulica, trio elétrico, alarme, retrovisor interno eletrocrômico, faróis de neblina, rodas de liga leve 16” e volante com regulagem de altura e profundidade.
No outro lado do ringue está o Ford Focus Flex, que fechou o primeiro semestre de 2009 logo atrás do Golf, com 7 191 carros vendidos – esse número, porém, acrescenta as unidades reestilizadas. O conjunto McPherson na dianteira com barra estabilizadora e multibraços na traseira é raramente oferecido nos automóveis à venda no país com preço inferior a R$ 50 000 e, de tão bom, pode ser classificado como referência no segmento. Sua eficiência é tanta que a mesma solução foi aplicada na segunda geração do hatch da Ford. Na tabela, a marca pede R$ 44 245 pelo Focus Flex, mas não é difícil encontrar promoções nas concessionárias oferecendo o modelo por cerca de R$ 40 000. Se o valor é menor, a lista de equipamentos de série também decresce na mesma medida e contempla ar-condicionado, direção hidráulica, trava e vidros elétricos, volante com regulagem de altura e profundidade, aviso sonoro dos faróis ligados e relógio digital.
Análise ponto-a-ponto
Se no quesito preço o Astra 2010 parece mesmo imbatível, o Focus ao menos dá o troco com o interior mais caprichado. Goste ou não, fato é que o painel do Focus Flex ainda é atual e tem personalidade, diferentemente das linhas retas e sem vida do Chevrolet, resultando em um aspecto demasiado sóbrio. Além de reunir os controles da trava e dos vidros elétricos, as portas no Focus são acolchoadas e o material, assim como o revestimento dos bancos, apesar de transparecer simplicidade, é agradável ao toque. Percorrendo pelo console central, o Focus conta até mesmo com botões do sistema de ventilação emborrachados e um caprichado porta-copos perto da alavanca de câmbio. Emparelhado com o Focus, o Astra demonstra claramente os sinais da idade.
Um ponto curioso quando analisamos a ficha técnica desses dois veteranos diz respeito às dimensões. Astra e Focus são iguais na distância entreeixos (2,61 m), na largura (1,70 m) e na altura (1,43 m). O Astra é ligeiramente maior no comprimento, 4,19 m contra 4,17 m do Focus. Uma diferença, dessa vez sensível, ocorre no porta-malas. Enquanto o Astra tem espaço para 370 litros, o Focus para nos 310 litros. Por essas semelhanças, os dois hatches oferecem praticamente o mesmo espaço para seus ocupantes, suficiente para levar quatro adultos com conforto.
O Focus pode não ser tão equipado de série, mas pelo menos é mais barato para manter. Nossa cesta de peças (composta por kit de embreagem, para-lama esquerdo, retrovisor direito, jogo de pastilhas dianteiras e jogo de amortecedores dianteiros) ficou em R$ 2 131 para o Focus Flex e R$ 2 321 para o Astra. No seguro, nova vantagem para o Ford: o valor médio da apólice cotada para nosso perfil padrão girou em torno de R$ 2 300. O dono do Chevrolet teria de desembolsar por volta de R$ 2 500. O Astra, em contrapartida, desvaloriza menos segundo dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). No primeiro ano, o Chevrolet perde 8,9% do valor contra 10,5% do Ford.
Outra vantagem do Astra foi constatada na pista, como já era de se esperar. Equipado com o motor 2.0 Flexpower de 140 cv a 5 600 rpm e 19,7 kgfm de torque a 2 600 rpm, o Chevrolet foi bem superior ao Focus, equipado com seu 1.6 RoCam de 109,4 cv a 5 500 rpm e 15,5 kgfm a 4 250 rpm. Mesmo levando em consideração que o modelo cedido pela Chevrolet contava com metade de gasolina no tanque, ele foi 1s5 mais rápido na aceleração de 0 a 100 km/h (10s6 contra 12s1) e levou 1s7 a menos para cumprir a retomada de 60 a 120 km/h (17s2 ante 18s9). O que prejudica ainda mais o Focus é que, além de ser 30,6 cv menos potente, ele é 10 kg mais pesado (1 190 kg vs. 1 180 kg). A boa notícia é que o Astra até que foi moderado no consumo e registrou média (50% na cidade e 50% na estrada) de 8,1 km/l, enquanto o Ford percorreu 8,9 km/l. Dinamicamente, entretanto, é nítida a diferença de comportamento dos dois carros. Apesar de mirar no conforto, a suspensão do Astra se caracteriza pela maciez, enquanto o Focus dosa com distinção a rigidez nas curvas com o amortecimento necessário para enfrentar lombadas e buracos.
Bem mais equipado por um preço praticamente igual ao do concorrente, mais rápido, potente e com custos praticamente equivalentes, o Astra 2010 sai vitorioso nesta disputa em que o custo/benefício é o que manda. Se você não coloca o tópico modernidade como prioridade na escolha do carro novo e quer um automóvel maior e mais equipado que os hatches de entrada, o Chevrolet é uma boa pedida. (fonte Carro Oline).